Com certa frequencia, pais buscam apoio psicanalítico com a expectativa de resolver questões dos “filhos adolescentes problemáticos”. Porém questiono quanto destas questões residem nas dificuldades dos próprios pais, em dar sustentação a este complexo processo que seus filhos estão vivenciando.
Neste sentido, talvez refletir a respeito de algumas questões psíquicas comuns a todos adolescentes, possa ajudar estes pais a sofrerem menos ao servir de apoio para a transição destes jovens à fase adulta. Tarefa esta, nem um pouco fácil.
Em primeiro lugar é importante ter em mente que a grande angústia adolescente está relacionada ao seu futuro. Há uma profunda transformação na forma como o “eu” adolescente se posiciona diante do outro e da sua própria vida. O “eu”, que já não é mais criança, porém ainda não é adulto, se questiona “quem será”, e para isto, se experimenta. Este jogo de experimentação adolescente se coloca quase como um ensaio de possibilidades de como superar dificuldades no futuro.
Também relacionado à angustia do futuro, há uma ambiguidade entre um anseio muito forte por independência, e o pânico tanto de alcançar como de não alcançar tal independência.
Somado a isto, está muito presente a avassaladora força da sexualidade que vai despertando, sem que esta “ex-criança-ainda-não-adulto” saiba o que fazer com tamanha potência.
Muitos se identificam fortemente com a essência de assuntos como filmes de terror, por exemplo, onde uma intensidade monstruosa e sem controle se coloca de forma dominadora, exatamente como a experiência que vivenciam em seus próprios corpos. Outros apresentam sintomas como medo de ladrão, insônia, etc… para conseguir dar nome ao temor que sentem desta experiência corporal que vai emergindo.
E, como toda questão psíquica, o processo de compreender e elaborar pode apaziguar tais temores. Talvez por isto filmes como o Crepúsculo se transformem em tamanho sucesso junto aos adolescentes, pois se apresentam como veículos emprestados para o adolescente sonhar as transformações que está vivendo.
Como se já não bastasse, há o anseio de buscar uma possibilidade de diferenciação entre as expectativas de futuro que seus pais e avós depositam sobre ele, e suas próprias expectativas. O adolescente repudia tudo aquilo que “não sou eu” para poder encontrar a sua própria autenticidade. E muitas vezes a agressividade se apresenta como forma de manifestar o repúdio, e o isolamento como uma forma de reinventar a si mesmo.
Adolescência é um período em que aparecem diferentes crises. Crises essas necessárias para que experimente diferentes possibilidades de ser, diferentes possibilidades de se colocar diante do outro.
A crise aqui é necessária. A crise na adolescência não precisa ser “curada” e sim “sustentada”.
Neste ponto entra a importância do amor, confiança e segurança apresentada pelos pais para efetivamente sustentar este processo de transformação que ocorre através do inevitável confronto entre gerações.
Se não há um ambiente em que o amor sobreviva ao confronto, então o jovem não experimenta a confiança necessária para atravessar a adolescência de forma saudável.
Cuide-se!
Débora Andrade,
Psicanalista
texto escrito com base na experiência clínica e nas anotações realizadas durante seminário com Prof. Gilberto Safra
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